A ordem do dia na era a seguinte:
1) Apreciar e votar reavaliação do orçamento de 2011;
2) Votar o Planejamento Estratégico até o período de 2014;
3) Assuntos gerais.
Como já sabido por todos, dentro dos assuntos gerais foi abordado o contrato de televisionamento do Brasileirão com a rede Globo.
Foi uma sessão longa e bastante acalorada (especialmente na sua parte final). Na minha opinião a reunião foi esclarecedora, em muitos aspectos. Fico preocupado é com o foco errado de muitos dos envolvidos. Isso sim preocupa. Muito mais que as picuinhas políticas e eventuais disputas de vaidade. Mas vamos aos assuntos tratados:
Reavaliação do orçamento de 2011Foi o Presidente Odone que começou a explanação do tema. Disse que faria uma exposição mais prática e menos técnica, e apresentou uma evolução histórica de diversas números do Grêmio nos últimos 10-15, como por exemplo arrecadação total, despesas, sócios em dia, vendas na GrêmioMania, TV, Venda de Atletas, Rendas, Passivo, Resultado, Antecipação de Receitas, Investimento na base (dizendo que em 2008 foi o pico, que o Grêmio deveria retomar investimento no setor), gastos do departamento de futebol (queixando-se dos altos valores praticados no Brasil, citando como exemplo o salário dos treinadores)
O CEO Cristiano Koehler apresentou a reavaliação do orçamento propriamente dita, colocando lado a lado os números do
orçamento feito em novembro de 2010 com os ajustados na reavaliação.
O conselheiro Roberto Sommer fez a leitura do parecer do Conselho Fiscal, que recomendava a aprovação da reavaliação, mas destacou que o orçamento previa um cenário muito otimista, que havia uma grande influência do resultado de campo nos números e alertando que os pedidos de suplementação no final do ano tem virado rotina.
O presidente da Comissão de Finanças, o conselheiro Carlos Biedermann saudou o número elevado de presentes, no que o Presidente
Raul Régis revelou que 203 conselheiros (182 efetivos e 21 suplentes) compareceram na reunião. Biedermann mencionou uma mudança de critério nas despesas e receitas, que elevaram os valores, mas se mostram mais adequados. Também foi registrada a preocupação com o cenário otimista projetado. Reiterou-se que o clube não vem demonstrando disciplina orçamentária e que deveria adotar regras de convergência. Por último, Biedermann fez duas sugestões: 1) que o clube também observasse a questão do fluxo de caixa nas suas demonstrações. 2) que fosse reduzido o custo de futebol (o que ele acredita que é possível) e que o momento para começar a reduzir o custo do futebol em 2012 é agora.
A palavra foi colocado a disposição:
- O conselheiro Luis Gustavo Schmitz ressaltou que não tinha assinado o parecer do conselho fiscal, dizendo que não tinha tido acesso aos documentos necessários para tanto em função de não ter ido a uma das reuniões do órgão. Disse que faria a leitura de um parecer independente. Nisso o Conselheiro José Simões levantou uma questão de ordem, afirmando que tal tema era de competência interna do conselho fiscal. O presidente Raul Régis disse que o conselheiro Schmitz poderia se manifestar como conselheiro, e este leu seu aparecer, sugerindo a aprovação da reavaliação.
-O conselheiro Renato Moreira questionou a nomenclatura de uma conta utilizada e foi esclarecido que a mesma se referia a comissão técnica.
-O conselheiro Antônio Carlos Azambuja questionou um repasse feito a Grêmio empreendimentos, e foi esclarecido que o mesmo era referente a contratação do escritório do arquiteto De La Corte para acompanhar a obra. O conselheiro Azambuja mais uma vez manifestou contrariedade com a formatação jurídica da Grêmio Empreendimentos, tendo solicitado a leitura de um parecer seu sobre o tema. O presidente Raul Régis negou tal pedido, mas garantiu que tal material seria colocado a disposição dos conselheiros.
- O conselheiro Denis Abraão saudou o fato de que o o Grêmio tinha como objetivo ganhar títulos.
O tema foi colocado em votação e foi aprovado por unanimidade.
Planejamento Estratégico até o período de 2014O documento referente ao planejamento estratégico ficou a disposição dos conselheiros na secretaria do conselho deliberativo. Li o material na última sexta-feira.
O consultor Claus Süffert fez uma explanação do funcionamento do Planejamento Estratégico, desde sua implementação no clube em 2003. Deu detalhes de como o Conselho de Administração pode trabalhar para atingir as metas previstas ali.
O presidente da comissão de acompanhamento do planejamento estratégico, conselheiro
Gabriel Mello detalhou o trabalho feito e sugeriu que fossem feitas reuniões trimestrais para o acompanhamento da execução do PE.
A palavra foi colocada a disposição: O conselheiro Paulo Luz destacou o trabalho dos envolvidos, em especial do conselheiro Marcos Herrmann, no que foi sugerida uma salva de palmas pelo Raul Régis. O conselheiro
Minwer Daqawiya relatou que tinha solicitado que o documento referente ao PE fosse disponibilizado on-line aos conselheiros, ressaltando que nem todos tem disponibilidade em comparecer no clube no horário marcado e que era de extrema importância que os conselheiros tivessem conhecimento do documento apresentado. O presidente Raul Régis disse que a sugestão foi considerada, mas que o arquivo em questão era muito pesado para ser colocado no site do clube. O conselheiro
Jeferson Thomas disse que tal disponibilização não era possível em virtude da possibilidade de vazamentos, já que não é possível afirmar que todos os conselheiros são confiáveis. **
E o Planejamento Estratégico foi aprovado por unanimidade.
Contrato Televisonamento 2012-2015 Rede GloboO presidente Paulo Odone fez um longo e minucioso relato da escolha do Grêmio e dos números do contrato com a Rede Globo (acrescentando vários dados aos já divulgados na sua
entrevista na TVCOM)
Começou com um comparativo da questão do direito de imagem na Europa, onde o direito a negociação cabe ao mandante do jogo. O presidente disse que felizmente no Brasil a legislação prevê a participação dos dois clubes na negociação do direito de arena, e que isso é um trunfo dos times, evitando maiores disparidades
Odone fez um histórico da criação do Clube dos Treze em 1987. Relatou das dificuldades do enfrentamento dos clubes com a CBF/Fifa, da ameaça de perder o passe dos jogadores e do apoio que teve dos parceiros da Copa União (Globo e Coca-cola). Disse que deveria existir uma unidade entre o clubes, com todos recebendo o mesmo valor.
Listou alguns critérios que no entender da diretoria deveriam nortear a escolha da proposta das redes de TV: Preço, Tecnologia, Know-how, Abrangência (capilaridade) e Audiência.
Odone achava que o Clube dos Treze deveria fazer a licitação levando em conta preço e técnica (citou o exemplo das licitações no ramo publicitário). Mas o Clube dos Treze optou por levar e conta somente o preço, dando um
ágio de 10% em favor da Globo (o que acabou sendo derrubado)O presidente disse que ligou para Fábio Koff antes de falar com a Globo.
Disse que entrou em contato com a Record, mas que a diretoria da emissora não compareceu a uma reunião agendada e depois disso quis tratar somente com o C13. Odone enfatizou que a proposta da
Record para o Corinthians é ilegal. Disse que a proposta total da RedeTV é muito pouco superior a da Rede Globo (Diferença de 8 milhões no geral) e ainda depende da garantias financeiras e da anuência de todos os 20 clubes.
Odone ressaltou que todo o conselho de administração e a a diretoria-executiva do Grêmio participaram das reuniões com a Globo.
Na questão do aspecto técnico, a Topper (Alpargatas S/A) foi consultada, dizendo que é grande a diferença para o patrocinador em relação ao jogo ser exibido na Globo ou em outra emissora. A Globo possuiria 75% do mercado de patrocínio no futebol.
Então foram apresentados os números exatos do acordo com a Globo, e a divisão deles na contas (TV Aberta, TV Fechada, Pay-per-View, etc...). Obviamente foi pedido sigilo ao conselho.
Também foram explicadas
as novas divisões dos Grupos (I, II, III e IV), onde ficou clara a questão da diferença percentual entre cada grupo (tabela abaixo). Lembrando que o Grêmio está no Grupo III
Acho que era esse um dos pontos fundamentais do contrato. A diferença entre Grêmio e Corinthians caiu de 40% para 31% (quando muitos diziam que iriam aumentar). Em relação ao Vasco o percentual caiu de 40% para 18%.
O Grêmio ainda celebrou algumas garantias formais ("side letter") com a Globo, que asseguram a manutenção desse percentual (ou seja, caso algum clube receba a mais, o Grêmio também terá seu valor reajustado). Outras questões garantidas são a do "Naming Rights", de placas de publicidade, e que o cronograma priorizará o horário diurno aos domingos.
Odone enfatizou que a opção feita pelo Grêmio era puramente técnica. Lamentou muito a situação atual do clube dos treze, que se encontra esfacelado, sem uma perspectiva de acerto tão fácil/rápida. Queixou-se do papel exercido pela entidade, citando o exemplo do pouco dinheiro recebido na Libertadores e da falta de representatividade do clubes brasileiros na Conmebol. Disse que vai trabalhar na reconstrução de tal unidade, mas que isso demanda tempo.
A palavra foi colocado a disposição. Eu pedi pra falar mas acabei não sendo atendido*.
- Adalberto Preis fez uma exposição sobre a necessidade do tema passar pelo Conselho Deliberativo, mencionado o artigo 65, XXVI do estatuto e decisões do CADE.
- O conselheiro Zé Pedro Goulart falou da sua preocupação com o fato de a Globo não levar em conta critérios futebolísitcos na escolha dos jogos, no que o conselheiro Francisco Santos lembrou que a tabela dos jogos exibidos segundo turno fica aberta, sendo definida conforme o desenrolar do campeonato.
- O conselheiro Renato Moreira lamentou a falta de união entre os clubes, lembrando do ano de 1996, quando uma emissora se dispos a pagar pela final do Brasileirão quantia superior a que o Grêmio tinha recebido no campeonato inteiro.
- O conselheiro Romildo Bolzan se queixou da forma como a questão foi conduzida, da falta de transparência e do fato do Grêmio estar indo contra o Fábio Koff. Paulo Odone respondeu de forma enérgica, reiterando que a escolha foi absolutamente técnica, visando o melhor para o clube. Solicitou que os conselheiros que estavam de acordo com a condução do negócio ficassem de pé. A imensa maioria do conselho se levantou.
- Visivelmente irritado, o presidente acabou deixando a sala. A irritação do Odone é compreensível, mas não justifica a saída. Não saberia precisar quantos minutos, mas pouco depois da manifestação o Romildo Bolzan também foi embora. É importante dizer que vários conselheiros (sejam de situação ou oposição) deixaram a sessão antes do seu final.
- O Vice-presidente Antônio Vicente Martins disse que ao contrário do que vinha sendo dito, as manifestações anteriores eram sim políticas. E que isso é natural. Que ele já foi oposição e poder vir a ser daqui a pouco tempo. Disse que o posicionamento do Grêmio não é um desrespeito ao Fábio Koff. Que é preciso fazer uma separaração da figura mítica do presidente campeão do mundo do presidente do C13. Disse ter profundo respeito pelos ex-presidentes do clube, mas que em muitos momentos divergiu deles. Disse que o artigo evocado por Preis permite interpretações diversas, que o estatuto deve ser interpretado num todo, que o conselho não foi chamado anteriormente a opinar sobre algumas matérias, como venda de jogadores e que, em última análise, o conselho estava se pronunciando a respeito do tema.
- O conselheiro Homero Bellini Jr. criticou a retirada do Presidente Odone. Lembrou do lobby pelo encerramento das ligas regionais no início da década de 2000 (que era uma iniciativa de união dos clubes). Disse que também tinha dificuldade em aceitar algumas divisões nas cotas de TV, que todo o gremista acha que o Grêmio é o maior time do mundo, mas que é preciso reconhecer o tamanho da torcida de Corinthians e Flamengo. Disse ainda que foi minoria no conselho por um longo período e que esperou no mínimo 6 meses para fazer qualquer crítica a gestão Duda Kroeff no conselho.
- O Vice-presidente Marco Antônio Scapini divergiu da interpretação do estatuto feita por Adalberto Preis.
- O conselheiro Paulo Ferrer disse que o Grêmio não poderia ter sido o primeiro clube a ir contra Fábio Koff, no que foi esclarecido que o clube não foi o primeiro a assinar com a Globo.
Raul Régis disse que conversou algumas vezes com Fábio Koff ao longo do processo. Disse que o ex-presidente havia sido informado que o tema seria tratado nessa reunião e que como conselheiro do Grêmio ele fora devidamente convocado e poderia se fazer presente.
Ainda, Raul Régis esclareceu a interpretação feita por ele do estatuto, dizendo que o inciso XXVI do artigo 65 se refere a passivos, e que o novo contrato de TV é um ativo. Lembrou ainda que tal matéria nunca passou pelo Conselho Deliberativo.
Diante de todas as circunstancias apresentadas eu fiquei convencido que o Grêmio escolheu a melhor opção possível na questão da TV.
* No final da sessão eu mencionei isso ao Presidente Raul Régis. Ele me pediu desculpas e disse que o fato seria devidamente registrado.** O conselheiro Jeferson Thomas fez o seguinte esclarecimento:
"disse não confiar em determinados conselheiros porque já é fato provado o vazamento de informacoes confidenciais"