terça-feira, janeiro 12, 2010

Do Avaí

"1/3 São Paulo de 2007 + 1/3 Avaí 2009 + 1/3 Grêmio 2009 = GRÊMIO 2010"

Recentemente, fiz a frase acima no Twitter. Era pra ser uma brincadeira, mas também é possível dizer que essa "equação" tem lá um fundo de verdade.

O "terço gremista" todo mundo conhece. Da mesma forma, acredito que o "terço são paulino" seja do conhecimento de quem acompanha futebol com alguma regularidade. O mistério reside no terço vindo do Avaí.

Confesso que, apesar da boa campanha, não acompanhei o Avaí como deveria em 2009. Sei pouco sobre o trabalho do Silas, Ferdinando é um ilustre desconhecido para mim e as poucas lembranças que tenho do futebol de William ainda são da época do Santos.

Não achei muita coisa a respeito do desempenho destes profissionais no período em que trabalharam em Florianópolis. Em razão disso, pedi a opinião do Avaiano Felipe Silva, autor do blog "Onde a Coruja Dorme" sobre o que se pode esperar de Ferdinando, William e Silas no Grêmio em 2010:


Ferdinando

Ele atuou por aqui como lateral-direito, primeiro volante, segundo volante e até como meia. Sem dúvida a posição em que mais rendeu foi a de primeiro volante, na qual passou a atuar a partir da 10ª rodada da Série A, na vitória por 2x0 contra o Goiás em Goiânia.

Considero o Ferdinando um jogador limitado, com um passe deficiente (a função de “saída de bola” da defesa para o meio-campo quem cumpria no Avaí com muito mais qualidade era o Léo Gago), mas de muita força e boa velocidade. Faz o estilo marcador “carrapato”, marca sempre em cima, joga duro, tem muita disposição. Por outro lado, é mais fácil vê-lo cometendo faltas (foram 92 na Série A) que desarmando (44 desarmes) e, consequentemente, recebendo bastantes cartões (11 amarelos e um vermelho na Série A).

Jogando na lateral, como na Série B em 2008, o Ferdinando mostrou-se um jogador defensivo, com poucas subidas ao ataque. Na ocasião, o Avaí tinha um lateral-esquerdo (Jeff Silva) que era praticamente um ponta, enquanto o Ferdinando segurava mais, quase como terceiro zagueiro. Nas vezes que foi ao ataque, mostrou velocidade, mas deficiência no cruzamento.

Outra característica dele é chuta forte de fora da área e bate faltas de longa distância também. Mas “forte” não quer dizer “bem” e às vezes as patadas passam a quilômetros de distância do gol. Lembro de ele ter feito três gols de fora da área ano passado, dois com bola rolando (contra Criciúma e Chapecoense) e um de falta (contra o Grêmio).


William

É centroavante do estilo "brigador", forte, que tromba com zagueiro e dá carrinho na saída de bola adversária. Assim como o Ferdinando, é raçudo e pode cair nas graças da torcida por isso, como aconteceu aqui. Mas não diria que ele é um grande artilheiro

O William em um ano e meio de Avaí fez 21 gols (seis na Série B, quatro no Catarinense e 11 na Série A), o que não é uma marca fantástica para um centroavante. Teve umas fases terríveis, principalmente no Catarinense e no início da Série A, perdendo um gol atrás do outro. No segundo turno, deslanchou e terminou como artilheiro do Avaí com 11 gols em 23 jogos (um gol a cada dois jogos, média razoável). Apesar do 1,81m de altura, não lembro de muitos gols de cabeça que ele tenha feito por aqui.


Silas

Eu não acompanhava o cotidiano do clube, então não sei dizer até que ponto a religião influi no relacionamento dele com o grupo, se tem alguma influência na escalação (tinha gente por aqui que dizia que sim), enfim. O que se sabe é que o grupo do Avaí tinha vários evangélicos e fazia reuniões para orar, ler a Bíblia, essas coisas .

Uma característica que ele mostrou aqui é a de dar chance a todos os jogadores. Até aquele jogador que tu nem lembravas mais que tava no grupo de repente aparecia entrando no segundo tempo ou mesmo como titular. Acredito que seja uma estratégia pra manter os caras sempre motivados. E ele às vezes “inova”, como colocar o Luiz Ricardo, um centroavante de 1,84m de altura que não sabia fazer gol, como ala pela direita (ala mesmo, no 3-5-2, quase um ponta). Deu muito certo.

Sobre esquema tático, ele começou com 3-5-2 no Catarinense de 2008, passou pro 4-4-2 na Série B e no Catarinense de 2009 e voltou pro 3-5-2 na 10ª rodada da Série A, quando o Avaí era o lanterna. Essa mudança, no entanto, foi meio “forçada”, já que com o esquema preferido dele a campanha era horrível, e a defesa, uma peneira. Dizem também que ele só mudou o esquema tático depois de uma reunião com a diretoria em que isso teria sido imposto a ele.

Creio, portanto, que ele prefira o 4-4-2 com dois meias (não lembro de o Avaí ter jogado com três volantes enquanto ele esteve aqui), um de estilo mais “clássico” (Marquinhos) e outro mais veloz e driblador, e dois volantes, um mais marcador e outro que sabe sair pro jogo. Em geral, o Avaí entrava no 4-4-2 sempre com um lateral bastante ofensivo e outro mais defensivo. Acho um jogador importante no esquema dele o camisa 8, o segundo volante, o cara da saída de bola da defesa pro meio-campo (os meias raramente vinham buscar bola na defesa), função exercida pelo Batista em 2008 e pelo Léo Gago em 2009. Se esse cara não tá num bom dia, o time sofre.

Silas é da escola do Telê Santana, então tenta montar um time de toque de bola e velocidade no ataque. Esse esquema de raça, garra, etc., não é muito a dele. O ataque costuma ir bem, mas a defesa nem tanto. Basta ver que em 64 jogos em 2009, contando Catarinense e Série A, o Avaí fez 107 gols e levou 83.

De negativo, considero os fato de que o Silas demorava em mexer no time (raras vezes mexeu no intervalo) e não deu muita chance pros guris das categorias de base. De um time que foi campeão estadual júnior em 2008 e semifinalista da Copa SP em 2009, ele usou apenas dois jogadores no Catarinense e na Série A.


Os três no Grêmio

Se o objetivo do Grêmio é brigar por título de Copa do Brasil (acredito que seja, né?), acho que William e Ferdinando podem ser bons reservas, nada mais que isso, a não ser que joguem muito mais do que jogaram aqui.

Quanto ao Silas, ao contrário do Duda Kroeff, acho que ainda é uma aposta. Ele fez um baita trabalho aqui no Avaí, mas foi apenas o segundo time na carreira dele (o outro foi o Fortaleza) e, apesar de ser avaiano, reconheço que há uma grande diferença entre treinar o Avaí e o Fortaleza e treinar o Grêmio.

Por outro lado, assim como ocorreu aqui no Avaí, ele chega aí num momento de pressão, em que o Grêmio precisa recuperar sua “autoestima”, já que os títulos rarearam nos últimos anos e o Inter cresceu (como aconteceu conosco em relação ao Figueirense). Com o jeito dele, fala mansa, pacato, deu muito certo aqui, quem sabe também possa dar certo em Porto Alegre.

Por causa do trabalho dele aqui, torço pelo sucesso do Silas no Grêmio. Menos na Copa do Brasil, claro. Se seguirem na competição, Avaí e Grêmio se cruzam já nas oitavas...

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