sexta-feira, outubro 09, 2009

Autuori e a (ausência de) crítica

"Nunca disse que os treinadores não são importantes. Seria burrice. Quem distorce minha opinião faz por má intenção ou porque não leu. Escrevi, um milhão de vezes, que os técnicos são supervalorizados, nas vitórias e nas derrotas. É bem diferente de não ser importantes.

São os técnicos que organizam os esquemas táticos, escalam, substituem, treinam, formam o grupo e muitas outras coisas. Tudo isso é difícil. Muito mais fácil é ser comentarista.

Isso é uma coisa. Outra é achar que os técnicos são mais importantes que os jogadores, que ganham e perdem partidas por causa de uma substituição, de uma mudança de um jogador dois metros para a direita ou dois metros para a esquerda. Já vi técnico ganhar ou perder jogo, mas isso é raro.

Ao constatar que muitos sonhos noturnos eram consequência de desejos conscientes e inconscientes, Freud quis explicar o mecanismo de todos os sonhos. Nem todos são assim. Do mesmo jeito, comentaristas, por várias razões, constroem, depois do jogo, com bons e maus argumentos, uma história irreal. É a obsessão pelo reducionismo. Assim como a vida, o futebol é muito mais complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo.

Acontecem muitos detalhes táticos em uma partida que independem da vontade do técnico. Existe ainda um grande número de outros fatores envolvidos no resultado de um jogo, na conquista de um título. Por isso, um treinador pior pode ser campeão mais vezes que um melhor. Geninho já foi campeão brasileiro, e Celso Roth nunca foi.
" (Tostão - 28 de Junnho 2009)


Essa coluna do Tostão serve perfeitamente como introdução para este post. Concordo que se dá uma importância exagerada para os treinadores, pelo bem ou pelo mal.

Também não me agrada muito essa questão de observar somente os títulos conquistados para se avaliar a capacitação de algum treinador.

Ressalvadas as piadas, a flauta e o folclore, sempre critiquei os exageros que eram cometidos contra Celso Roth.

Da mesma forma, sempre chamei a atenção para a incoerência de parte da torcida e da imensa maioria da imprensa. Atos que quando praticados por Roth eram motivo de severas críticas, não são repreendidos da mesma forma quando praticados por Autuori.

Não se trata de defender "a" ou "b", mas demonstrar que, por muitas vezes, a crítica se volta para pessoa, e não para o seu trabalho.

Autuori chegou com grandes credenciais, conhecidas por todos. Mas me marcou o fato de ainda assim, ele ter ido a todos os programas esportivos de Porto Alegre na semana da sua chegada. A partir daí as impressões e os comentários da imprensa beiravam o surreal.

Muito embora os resultados não fossem os esperados, a crítica ao treinador era sempre adiada, quando finalmente surgiu, foi bastante condescendente. O próprio Autuori reconhece isto:

"Autuori admite que seu histórico de títulos tem amenizado a força das críticas [...] Respaldado por um currículo repleto de títulos, ele admite que não fosse seu histórico e as críticas seriam mais duras no momento. 'Acho que sim. É injusto, mas essa é a realidade', concorda Autuori."(Correio do Povo - 09 de setembro de 2009)




E só agora, quando parece bem claro que o Grêmio não irá disputar a Libertadores em 2010, é que se vê algo parecido com um questionamento na grande mídia:

'Em 30 jogos, o aproveitamento é 47,77%" (Zero Hora - 09 de outubro de 2009)

Destrinchando esses números:

- São 11 vitórias, 10 empates e 9 derrotas.

- 26 jogos pelo Brasileiro (51,3% de aproveitamento)

- 4 pela Libertadores (acho inadequado falar em aproveitamento percentual em mata-mata)

- 54 gols marcados e 37 gols sofridos


Enfim, não se pretende aqui pedir a cabeça do treinador, tampouco achar que ele é o único, ou principal responsável por insucessos do Grêmio. O propósito do post é questionar essa ausência de crítica em relação a Autuori. O fato dele ser simpático com a imprensa, ter um currículo vencedor, não explica isso inteiramente.


9 comentários:

Márcio C. M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Márcio C. M. disse...

A única explicação pra mim é a diferença entre o golfinho e o boi: carisma.

Postei no Twitter esses dias que esse Grêmio é o pior desde 2006, porém é o plantel que tem melhor qualidade. Quem acha que não, coloca jogador por jogador, posição por posição, ano a ano.

Por outro lado, me parece que se treinador fizesse tanta diferença, os maiores clubes do mundo não investiriam tanto em jogador e não ficariam tanto tempo com o mesmo treinador.

Agora, o que Autuori faz é o pior de todos os mundos: trocar o time todos os jogos, insistir nas suas "convicções", por mais erradas que estejam e não ter o comando das ações do time dentro de campo. Um fiasco maiúsculo.

heraldo disse...

É simples, fizemos de tudo para tirarmos aquele chupa cabra do Burroth, e ai somos brindados, pela competencia dos polentas, 60 dias sem tecnico e 4 meses sem preparador,aliais professor de educação fisica que quando dava aulas, era só caçador pra piazada, agora é futvolei pros marmanjos,e assim nos torcedores ja desacreditamos da diretoria, pois se sair este come e dorme do filosofo, vão trazer o plein,geninho, nelsinho,vadinho e etc

valdomiro disse...

Muito bom post.
Fez eu pensar um pouco - sim, eu era, e sou um dos que não gostava nem gosta do Roth. E sim andei pegando leve com o Autuori, mas deixo aqui a minha opinião - deram pra ele um semi time (discordo do comentário sobre ser o melhor time) - ao meu ver temos o pior time dos últimos anos, devido ao péssimo investimento feito. (que time brasileiro paga 2.7 milhões por um jogador de 30 anos ?, ou paga 800 mil dólares por 50% do passe de um reserva ? ou não contrata um centro-médio verdadeiro ?).
Adiciono ainda que não temos uma direção de futebol (MEIRA) ativa que seja do ramo.
Não tiro a culpa dele, mas que o furo é mais em cima, na minha opinião é.

Márcio C. M. disse...

AK, se tiver tempo e interesse monta as quatro escalações aí, 2006, 2007, 2008 e 2009 e vejamos se este ano não temos os melhores jogadores.

A diferença é o joquei.

André Kruse disse...

A debate entre melhor ou pior time passa por um critério subjetivo. Mas com certeza esse time de 2009 é mais caro.

Minha comparaçao era mais em relaçao a 2008. Roth jamais saiu do G4 é era constantemente criticado. Autuori jamais ingressou no G4 e nunca é criticado

cristiano disse...

concordo com Márcio C.M., só que vou além, este plantel, NO PAPEL, é melhor que os de 2006, 2007, 2008 e mais que os de 2005, 2004, 2003...e assim por diante...

o que discordo, é q o problema maior NÃO É O JOQUEI AUTUORI, e sim a nossa direção!!! o maior problema que temos é a péssima direção. enquanto ela permanecer no comando nada ganharemos!!! mandaram rodrigo caetano embora, sem ao menos fazer uma contra proposta, compraram o souza 30 e todos os anos, mas nao temos certeza que compraremos o MAXI LOPEZ, que possui 24 anos e pode ser revendido por um valor bem maior do que será investido.
possivelmente para o ano que vem vão investir mais e mais em atacantes, quando o problema maior do time não passa pelo ataque! e sim pelo meio campo, laterais e zaga... meio campo q não cria, volantes q não prestam, laterais q nem entendo q fzem, e uma zaga infantil... possivelmente vão vender o victor (a unica peça invendivel do gremio) por uma merreca!!!

eu não sei o que fazer, se não esperar e torcer para o grêmio não se fuder MUITO com mais 1 ano com essa direção!

abraço

Gustavo disse...

duas palavras sobre isso:

FALTA
CONVICÇÃO

Márcio C. M. disse...

Direção não entra em campo, a direção deu os jogadores para o técnico, se ele não consegue fazer um time, a culpa é de quem?

Eu penso que o Grêmio fez um ótimo negócio comprando o Souza, afinal ele é aclamado por todos como o grande craque do Grêmio, o diferencial, etc.