sábado, abril 03, 2010

Armando Nogueira versus Grêmio

O assunto da semana foi a morte de Armando Nogueira. O jornalista recebeu diversas homenagens. Até aí tudo bem, inegavelmente foi uma figura de destaque na imprensa e nada mais justo que se façam as devidas reverências. O que me desagrada é que se tente mudar a história no meio desse processo.

Não vou adentrar a questão política, da atuação de Nogueira no jornalismo da Globo. Este post aborda tão somente a relação dele com o time do Grêmio na metade dos anos 90.


"Era um lírico – e, por isso, muitas vezes foi duramente criticado. Nunca escondeu que gostava mais da Seleção de 1982, derrotada, do que da equipe de 1994, vitoriosa. Por causa desta preferência, às vezes errava feio, quando revelou-se deslumbrado pelo futebol de toques da Colômbia e fez a previsão, ao lado de alguns outros, de que ela seria vitoriosa nos EUA. Foi um fracasso. Virou inimigo de parte dos gaúchos ao manifestar suas simpatias pela Portuguesa contra o Grêmio na decisão do Brasileirão de 1996, assim como um ano antes tinha torcido pelo futebol do Ajax, que na época maravilhava o mundo, na final de Tóquio contra o mesmo time de Felipão. Teve o mérito de nunca fazer segredo disso. Era sua convicção – e, por ela, se expunha a críticas e manifestações de ódio. Por toda a vida, manteve a ilusão de que seria possível continuar vendo o futebol-arte que tanto o deslumbrara ao conhecer Heleno de Freitas, como se o tempo não mudasse. Era um lírico."


Quem viveu o ano de 95 e acompanhava o noticiário esportivo sabe que a história não foi bem assim. Mário Marcos inverteu os fatos. Na véspera do mundial interclubes, Armando Nogueira disse que era incapaz de torcer para o Grêmio, pois se tratava de um time violento, não brasileiro, e por isso torceria para o Ajax.

O primeiro questionamento que faço é se um jornalista deve torcer para alguém? Se precisa tomar partido em cada evento que cobre? e até que ponto esse posicionamento não afeta a sua análise?

No caso de Armando Nogueira X Grêmio do Felipão me parece que afetou. A "torcida" do jornalista o impedia de enxergar os notáveis méritos daquela equipe. A isso se soma a histórica dificuldade do referido cronista em aceitar o que era diferente, o que fugia do seu gosto, fato que foi muito bem sintetizado na definição feita por João Saldanha em 1969, transcrita no livro de João Máximo:


"Um idealista do futebol, um sonhador. Pensa que o futebol devia ser como ele pensa que é."


É preciso dizer que Armando Nogueira não foi único a fazer campanha contra o time do Felipão. Até Telê Santana entrou na onda (muito embora tenha tardiamente reconhecido o valor daquela equipe)

Sobre essa relação da imprensa do centro do país com aquele time do Grêmio, indico o artigo "Ah! Eu sou gaúcho! O nacional e o regional no futebol brasileiro", do professor Arlei Damo, do qual transcrevo o seguinte trecho:

"Se se pretendesse uma definição abrangente acerca do impacto das recentes conquistas do Grêmio no cenário nacional e continental, poder-se-ia afirmar que estas se caracterizaram como um mal-estar no futebol-arte. Esse mal-estar foi decorrente da eficácia de um estilo de jogo considerado diferente e, em determinados momentos, oposto ao brasileiro. Para os adeptos do “ futebol-arte”, o dilema consistia em como e onde enquadrar o estilo adotado pelo Grêmio, já que esse clube, sendo gaúcho, era brasileiro mas, paradoxalmente, afrontava uma concepção de futebol que é, em si mesma, sinônimo de brasilidade. Já os defensores do estilo gremista tinham a difícil tarefa de fazer crer aos primeiros que o Grêmio, apesar das diferenças, ainda era um time brasileiro. Mas, como reivindicar essa inclusão se eles próprios sugeriam a incompatibilidade das diferenças? Eis a razão das disputas, e a seguir se verá como esse jogo se processou nas arquibancadas e na mídia"


Enfim, não é muito agradável falar sobre uma pessoa recém falecida, mas penso que era forçoso fazer esse registro.

12 comentários:

Lucas disse...

Oi. Concordo e discordo em alguns pontos. O Gremio de 1983 era um time admirado pelo Armando e o próprio já disse isso algumas vezes. Ele não era contra o grêmio, e só os fanáticos de plantão para pensar isso. Armando era contra aquele grêmio do Felipao que jogava exatamente o oposto da máquina de 1983. Alem disso, todos tem o direito de gostar ou não de determinado time e ter suas preferencias, você, eu, ele... Mas quando se leva uma preferencia pro lado do ataque e do suposto ódio, como você fez, aí muda tudo. Eu particularmente prefiro jornalistas que torcem, pois mostram que possuem o lado humano do futebol, melhor do que esses metidos de hoje em dia que só falam o obvio e fingem estar em cima do muro, quando não estão. E se isso muda o poder da analise de uma pessoa, azar o dela. O bom jornalista sabe separar as coisas e muitos conseguem, outros não. Mas você não achara UM torcedor que consiga. Jornalista que torce é honesto. O julgamento de Armando Nogueira era legitimo. Concordar ou não é uma coisa, mas daí a questionar o profissionalismo do mesmo, vai um caminho bem longo.  

Tonh@o disse...

Vale lembrar quwe após a final contra o AJAX, Armando Nogueira criticou de forma veemente a atitude de Galvão Bueno em torcer pelo Gremio naquela final. Cobrou-lhe uma postura imparcial, blablablabla, de uma maneira acintosa mostarndo sua animosidade para com O Gremio e Felipão, mas, depois Felipão Cmpeão do Brasil e Penta Mundial!!! Foi demais para ele!!!!

Tonh@o disse...

Ym jornalista que torce pode ser homesto, óbvio, mas tb é formador de opinião, pois é uma jornalista que todos param para ouvir; e ele jogou toda a imprensa e a opinião pública contra o Felipão e o Gremio daquele período, se é que vc entende. Fábio Koff era nosso presidente e teve sérios atritos com a imprensa paulista desde a final da copa do Brasil de 1995.

PQ?? Desses comentaristas parciais e honestos que vc se refere..... Só que o tricolor passou por cima deles...

Natália Santucci disse...

Se nenhum torcedor consegue separar as coisas e um jornalista também é torcedor, por definição ele também não consegue separar as coisas. É tipo aquela história de "deus pode td, até criar uma pedra tão pesada q ele não consiga erguer"...

Lourenço disse...

Gostei muito do artigo do Arlei Damo, belo material.

Imortal disse...

Jornalistas podem ter convicções (como a de que o futebol-arte é melhor do que o futebol "feio", ainda que este seja mais eficiente), mas ao concentrar essas convicções sobre um determinado alvo, eles erram.

Não havia mal algum na preferência do Armando pelo futebol mais refinado, o problema foi lançar isso sobre os jogos do Grêmio (principalmente contra o Ajax, o que além de deselegante, foi anti-patriota). Como disse o Telê, aquele time era trabalhador e sério. Dizer que ele não foi merecedor dos títulos porque não jogava de modo "artístico", é como desdenhar uma casa segura porque ela foi construída por pedreiros e não por escultores.

Portaluppi 83 disse...

Confundia futebol com poesia. Representava o futebol-arte-preguiçoso brasileiro e sem resultados. Não é à toa que torcia p/ o Botafogo, que lhe prestou justa homenagem contra o Santa Cruz da série D, jogando como nunca e perdendo como sempre. Vale lembrar que fez uma coluna exaltando o futebol do Túlio Maravilha, bom centroavante, mas ruim de bola. A antítese do que pregava... ah, mas era botafoguense.

O pior de tudo é que o Grêmio se contaminou por esse anti-gremismo da imprensa e até ano passado o nosso líder era o Souza. Não podemos cair nessa armadilha. Quanto mais odiado, melhor. Temos que voltar a nossas origens de time cisplatino.

Armando já vai tarde. Só falta o Alberto Helena, entre outros.

Perdoem a sinceridade, mas não é pq ele morreu que vou ser hipócrita.

Parabéns pela matéria André.

Tonh@o disse...

Não só Alberto Helena, como tb seus colegas de bancada, São paulinos, flamenguistas, cruzeirenses, e alguns imbecis que acreditam que o time do aterro é uma das melhores equipes do Brasil!!! Tem bastante gente para se despedir!!!!! Somos tratados como uma das equipes que existe apenas para atrapalhar a campanha dos outros , pois tem medo de cruzar com o Gremio em competições internacionais e nacionais, pq acham que acabaram com o mata-mata no brasileirão??

Mas as coissa irão mudar...

Firmino disse...

Eu não consigo esquecer de um comentário desse senhor que ouvi antes dos jogos finais do brasileirão de 96 comentando o porquê de "nenhum time grande" ter chegado às finais do campeonato brasileiro, disputado por Grêmio e Portuguesa. Oras, me desculpem, mas depois de ter ouvido aquilo, tenho certeza que ele não era só contra o Grêmio do Felipão não, mas sim contra a agremiação como um todo. Baita falta de respeito.

Não vou ser hipocrita também, a exemplo de outro comentário. Acho que ele já foi tarde!

Vicente Fonseca disse...

Aldir Blanc, torcedor da Lusa, disse após a final do Brasileiro de 1996 que preferia "perder o título a ganhá-lo com dois paraguaios na zaga" (Zero Hora, edição de 16/12/1996, um dia após Grêmio 2 x 0 Portuguesa). Pra mim essa xenofobia é muito mais nojenta e grave que qualquer devaneio do Armando Nogueira, e ninguém lembra deste episódio.

Tenho a tese do Arlei Damo. É um excelente trabalho, de fato.

André Kruse disse...

Carlos, aonde que eu parti pro ódio e pro ataque? E como tu chegou na conclusao de o time de 83 era o oposto de 95?

Vicente, até onde eu sei, o Aldir Blanc é vascaíno, torcia pela portuguesa pela origem lusitana.

Acho que não repercutiu muito aqui porque não era exatamente um jornalista e porque não publicava textos em veículos daqui, enquanto o Nogueira aparecia em rede nacional na Band.

Unknown disse...

Não precisamos da imprensa pra sobreviver. Eles precisam do Grêmio pra ter notícias. O Grêmio é muito maior que audiência televisiva. Eixo RJ/SP treme com o Grêmio. Imprensa que noticia embasada em fanatismo futebolístico demonstra incompetência. Na verdade a culpa disso tudo é nossa que aceitamos, damos audiência e os jornalistas que torcem pro Grêmio não se manifestam para escrachar esses bairristas. Ainda bem que meu Grêmio não depende de jornalistas vendidos.