sexta-feira, março 27, 2009

Taça Brasil e Robertão

No futebol, a polêmica nacional da semana foi um estranho pedido feito por alguns clubes brasileiros:


"Palmeiras, Santos, Botafogo, Fluminense, Cruzeiro e Bahia apresentaram nesta terça-feira um dossiê, que será enviado à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para tentar unificar o título de campeão brasileiro.

A intenção dos clubes é que a entidade considere que as conquistas da Taça Brasil (1959 a 1968) e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (1967 a 1970) tenham o mesmo valor do atual Campeonato Brasileiro, que teve início apenas em 1971." (Estadão, terça-feira, 24 de março de 2009)

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O Salão Nobre do Palestra Itália tornou-se nesta terça-feira um palco de nostalgia para convencer a CBF a transformar as conquistas entre 59 e 70 da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ambos já extintos, em títulos brasileiros. Com a ausência de Zezé Perrella, presidente do Cruzeiro, diretores de Palmeiras, Santos, Botafogo, Fluminense e Bahia apresentaram um dossiê para multiplicar seus feitos.

O espaço localizado abaixo das numeradas do estádio palmeirense estava decorado com um painel que expunha fotos dos vencedores das competições nacionais antes da criação do Campeonato Brasileiro, em 71. Todos eram chamados de campeões brasileiros. Acima do quadro, um telão exibia gols das decisões daqueles torneios, para deleite de ex-jogadores presentes.

A iniciativa do documento partiu do Santos, os dirigentes apresentaram o dossiê "Unificação dos Títulos Brasileiros a partir de 1959", escrito pelo jornalista Odir Cunha, que passou a dar argumentos para a validação das conquistas como títulos brasileiros, com reportagens da época e até fotos, como uma em que jogadores do Bahia recebem faixas com a inscrição "Campeão Brasileiro de 59". O jornalista disse que o futebol europeu registra como campeões nacionais até mesmo clubes vencedores antes da criação das ligas, e ninguém contesta estes feitos. E lembrou que a CBF só substituiu a CBD, antiga Confederação Brasileira de Desportos, em 79, quando o atual Brasileiro já estava em sua oitava edição. "O João Havelange (presidente da CBD em 59) criou a Taça Brasil para definir o campeão nacional e indicar o dono do título para a Libertadores. E foi ele que criou posteriormente o Robertão e o Brasileiro, que só adotou este nome em 89 - já foi Nacional, Copa União e até Copa Brasil. É infundado dizer que a Taça Brasil é igual à Copa do Brasil, já que era a principal competição do país e a Copa do Brasil foi criada como alternativa para quem não estava no Brasileiro", informou Odir." (IG,24/03 - 16:13)

"Esvaziado- No evento de lançamento do projeto para a unificação de títulos, ontem, na sede do Palmeiras, apenas o anfitrião e o Bahia foram representados por seus presidentes. O Cruzeiro nem foi" (Folha de São Paulo 25 de março de 2009)


Não é algo inédito, já se teve o Vasco com o Sul-americano de 1948, o Palmeiras com a Copa Rio de 1951. Olhando exclusivamente pelo lado do resgaste histórico tal evento é positivo. Mas somente isso que propõe os clubes. Sou contra, por diversos motivos. Tais títulos não devem e nem precisam de chancela da CBF. Outros argumentos contrários já foram mais bem expostos por alguns jornalistas:


"A frase definitiva, para mim, é de meu amigo Celso Unzelte. Você não precisa chamar Dom Pedro II de Presidente da República. Aliás, não pode. Dom Pedro II era o homem mais importante da Nação no século XIX. Era o Imperador.

Bahia, Santos, Palmeiras, Cruzeiro, Botafogo e Fluminense ganharam títulos extremamente relevantes entre 1959 e 1970. Ganharam a Taça Brasil, irmã mais velha da Copa do Brasil, e o Robertão, irmão mais velho do Brasileiro. Mas não se deve incluir esses títulos na galeria dos campeões brasileiros.
Quem conhece a história, sabe a importância de cada um deles.
Para quem desconhece, equiparar ou não não faz a menor diferença."(Blog do PVC, 24/03/09)

"em 1967 o Palmeiras ganhou a Taça Brasil e o Roberto Gomes Pedrosa. Então vamos somar os dois títulos como campeonatos nacionais? Se for assim o Cruzeiro poderá pedir o mesmo, afinal, em 2003 ganhou o Brasileirão e a Copa do Brasil. E todos os demais títulos do atual torneio de mata-mata deverão valer como o Brasileirão. Claro que não é bem assim, não é nada difícil perceber. Basta um pouco de atenção e equilíbrio na análise."

"Fica evidente a contradição dos que reivindicam a unificação como se fosse tudo a mesma coisa, uma lamentável tentativa de manipular a opinião das pessoas, de iludir quem não conhece bem a história. E a história tem que ser contada direito, como ela aconteceu." (Mauro Cezar Pereira, 24/03/09)



Tem ainda a questão do favorecimento dos clubes paulistas e cariocas nas duas competições, que foi minimizado pelos jornalistas "do eixo", mas ao meu ver é relevante.

E também não foi dito que o Paysandu poderia reivindicar o reconhecimento a copa dos campeões, por exemplo, e aí vai.

Mas aonde o Grêmio entra nesta história? Entra justamente neste achincalhamento feito em relação a Copa do Brasil, competição da qual o Grêmio detém a hegemonia. E também quando se faz esta rídicula lista de "como seria", onde o Grêmio aparece lá embaixo, numa posição nenhum pouco condizente com suas conquistas.

4 comentários:

Vicente Fonseca disse...

Perfeito o post.

Esta mania de "aumentar" os títulos que alguns clubes tentam fazer é muita forçação. E realmente: sempre quando fazem esta lista dos títulos nacionais projetando para um panorama secular, deixam de levar em conta a Copa do Brasil, que vale tanto quanto valia a Taça Brasil e se equivalia ao Brasileirão nos anos 90, se não em importância, ao menos em número de vagas dadas na Libertadores seguinte.

Anônimo disse...

Não vejo assim. As conquistas do Grêmio na Copa Brasil são intocadas e importantes. Poucos sabem, mas o Grêmio foi o time que mais participou da Taça Brasil e também se destacou naquela competição que era, sim, o Campeonato Nacional de Clubes de 1959 em diante.
Levado por meu pai vi um jogo Grêmio e Santos no Olímpico em que Pelé e Coutinho tabelaram de cabeça do meio de campo até a área do Grêmio.
Em São Paulo, no jogo de volta, áconteceu aquele episódio inédito de o Pelé jogar no gol.
Aqueles jogos tornaram o Grêmio conhecido e respeitado em todo o País, pois o Santos era o melhor time do mundo, mas suou para passar pelo Tricolor.
Então, ficam sim os títulos da Copa Brasil e acrescentem-se as grandes exibições do Grêmio na Taça Brasil. Acho justo o reconhecimento dos títulos e isso só enriquecerá ainda mais o currículo gremista.

Anônimo disse...

Legal contar a história como ela aconteceu, só que o único que contou até agora foi o autor do dossiê.
Alguém se lembrou de dizer que o Grêmio foi o time que mais participou da Taça Brasil? E não dá para dizer que sempre foi roubado, pois o Bahia foi campeão uma vez e vice duas; o Fortaleza foi vice duas vezes e o Náutico foi vice uma. Além disso, o Cruzeiro, outro time fora do eixo Rio-São Paulo, ganhou em 1966 goleando o Santos de Pelé no Mineirão (6 a 2) e ganhando de virada no Pacaembu (3 a 2), depois de perder um pênalti.
E o Grêmio, mesmo sendo o time que mais participou da Taça Brasil, jamais chegou á uma final.
Então, humildemente, temos de admitir que não fomos competentes. Se o Grêmio tivesse ganhado cinco títulos, como o Santos, e se toda a imprensa da época chamasse o Imortal de campeão brasileiro, a gente não iria qierer que os títulos fossem reconhecidos?
Claro que sim!
Então, não podemos ficar contra a ratificação desses títulos que nós não ganhamos porque não tivemos competência para tal.
Rogério Kruse, São Leopoldo, RS

Cristiano Borba disse...

Taça Brasil é Taça Brasil. Brasileirão é Brasileirão. Se Taça Brasil virar Campeonato Brasileiro em termo de contagem de títulos, todos campeonatos nacionais vão ter que virar, não só a Copa do Brasil como a Copa dos Campeões. Isso é brincadeira. A Taça Brasil é exatamente igual à Copa do Brasil, reunia os campeões estaduais, assim como a Copa do Brasil em seu inicio era apenas os campeões e vice estaduais, depois com o tempo passou a contar com clubes classificados pelo ranking. E aí no tal dossiê o cara afirma que "a Copa do Brasil foi criada como alternativa para quem não estava no Brasileiro". De onde ele tirou isso? Só aí já acaba com o tal dossiê. Tambem li em alguns blogs que no dossiê diz ainda que "se fosse comparar a Taça Brasil com a Copa do Brasil pois esta é uma competição em que não se pegava realmente os melhores do Brasil para ser campeão nacional, por isso Criciuma e Juventude, por exemplo, não poderiam ser considerados como Campeões Brasilieros como os campeões da Taça Brasil" esqueceram de ver realmente as coisas, pois o Juventude foi campeão eliminando 5 clubes grandes campeões brasileiros: Fluminense, Corinthians (que era o atual campeão brasileiro), Bahia, Inter e Bota-Fogo. Então, isso não tem nexo nenhum. Elas tem que serem reconhecidas como titulos oficias da CBF, mas não passarem a valer como outro campeonato. O Robertão até ja tinha formato de Brasileirão, esse até pode ser pensada a idéia de contá-lo como um legitimo Campeonato Brasileiro. Mas Taça Brasil é equivalente à Copa do Brasil (em tamanho e clubes grandes a Copa do Brasil ainda é maior que ela), portanto impossivel a Taça Brasil ser considerada como Campeonato Brasileiro. Se isso acontecer o futebol brasileiro chegará ao seu ponto mais ridiculo na história.
Brasileirão é Brasileirão. Copa do Brasil é Copa do Brasil. Taça Brasil é Taça Brasil. Todos legitimos campeões, mas desses campeonatos. Cada um na sua.